Maria que nos traz o Salvador

Maria que nos traz o Salvador

 

 A figura de Maria, chamada por Isabel de “Mãe do meu Senhor” (Lc 1,43) está em destaque no quarto domingo do Advento. Maria, a Mãe do Senhor, é a terceira personagem do Advento (além de João Batista e o profeta Isaías). Nela culmina e adquire uma dimensão toda maravilhosa a esperança do messianismo. Maria espera a chegada do Senhor cooperando na obra redentora. De certo modo pode-se dizer que o Advento é o mês litúrgico mariano, pois neste tempo Maria aparece nos textos bíblicos, especialmente na última semana. Sua atitude de disponibilidade, de colaboração na obra redentora, de confiança incondicional em Deus e de esperança ativa é um modelo que merece ser seguido pelos cristãos.

         O texto do evangelho para este domingo faz parte do “evangelho da Infância” com um gênero literário especial porque não pretende ser um relato fidedigno sobre acontecimentos, mas é uma catequese cuja finalidade é proclamar as realidades salvíficas: que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, o Deus conosco. E dentro desse quadro teológico Maria tem sua participação ativa.

 

1. Maria que partiu “apressadamente”

         A expressão “apressadamente” não descreve a presteza externa com que parte nem descreve o estado psicológico de Maria. Lc quer sublinhar a atitude interior de fé e de obediência de Maria. Sua “pressa” está dinamizada pelo fervor interior, pela alegria e, sobretudo, pela fé (cf. Lc 1,38. 45). “Apressadamente” significa, por isso, seriedade, empenho, solicitude, zelo, entusiasmo, ardor, prontidão etc.. No sentido teológico, então, a pressa de Maria é um reflexo da sua obediência, como serva e discípula fiel, em relação ao plano que lhe foi revelado pelo anjo, um plano que previa a gravidez de Isabel (cf. Lc 1,36).

            Segundo M. Descalzo, a viagem de Maria para visitar Isabel foi “a primeira procissão do Corpus Christi”. O corpo de Maria foi o ostensório vivo e precioso que carrega por primeira vez o Corpo de Cristo. Mas se nos mergulharmos um pouco mais no mistério, descobriremos que, na verdade, Maria é levada por Aquele que ela leva no seu ventre.

         Quando Jesus, Deus-conosco, entra e atua na história de uma pessoa e O tem realmente no coração, esse mesmo Jesus vai levar essa pessoa ao encontro dos outros, especialmente aos necessitados para partilhar a alegria e a esperança e irradiará e santificará os que dela se aproximarem. Jesus não deixa ninguém paralisado. Ele faz todos missionários.

 

2. Maria que “se põe a caminho” enfatiza o aspecto missionário da fé

         O Evangelista Lc não descreve que Maria simplesmente “andou”, mas que ela “partiu” /põe-se a caminho”. Nos Evangelhos a idéia de viagem, de caminho, está intimamente ligada à obediência a Deus e ao discipulado de Jesus. O verbo “pôr-se a caminho” tem em Lucas o significado teológico de disponibilidade e obediência aos planos de Deus; pôr-se a caminho significa aceitar total e existencialmente o caminho proposto por Deus, pois esse caminho nos conduz sempre à felicidade embora tenhamos que atravessar vários obstáculos, mas no coração ressoa sempre uma certeza de que Deus está sempre caminhando conosco (Maria foi com Jesus no ventre).

           Maria se põe a caminho significa que a partir daquele momento começou a sua vida como resposta à proposta ou aos planos de Deus.  É a resposta ao anúncio feito por Deus, que se funda, sobretudo, a leitura de Maria como modelo do discípulo perfeito, como a alma fiel por excelência.

           A fé de Maria é uma fé missionária. Depois de dizer o seu “sim”, leva-o através dos caminhos do nosso mundo para suscitar a alegria e o louvor. A viagem de Maria à Judéia, por isso, é um símbolo do caminho da fé que precisa ser testemunhada, compartilhada, que precisa servir; porque a fé não é somente o dom de Deus, mas também é uma resposta humana, e com todo ato humano. Dessa fé é que faz encontro e serviço. E quando a Palavra de Deus é ouvida com autenticidade, como Maria, não pode deixar de ser profundamente criativa e dialogante.

           E esta viagem interior, que é o caminho da fé, sempre se caracteriza por certa precariedade, mas esta precariedade nos leva a uma profissão da fé de que não há outras certezas ou outros absolutos nesta vida a não ser o Senhor que é fiel às suas promessas, pois ele é o nosso Deus caminha conosco, o Deus conosco e que para Deus nada é impossível (Lc 1,37). 

           E caminhar na fé implica mover-se na obscuridade, convencido das realidades que não se vêem (Hb 11,1). E aquele que acredita que existe o Absoluto e sabe aonde vai tem muitas possibilidades de ser feliz e de usufruir de todas as coisas boas que Deus lhe oferece diariamente. E cada felicidade que experimentamos é sempre um prelúdio da felicidade eterna que já deve começar aqui nesta terra.

           Não é fácil acreditar, especialmente quando se exige de nós contrariarmos o nosso “bom senso”. Maria nos ensina que vale a pena confiar sempre constantemente nas Palavras do Senhor, “pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido” (Lc 1,45), porque o nosso Deus é o Emanuel, o Deus conosco (cf. Mt 1,23).

 

3. Maria é a primeira discípula que sabe partilhar o que é salvífico

         Na anunciação (cf. Lc 1,26-38), Maria se tornou a primeira discípula entre os primeiros cristãos, porque ela ouviu a Palavra de Deus e a aceitou incondicionalmente (Lc 1,38). Na Visitação, ela se apressa em partilhar esta palavra do evangelho com os outros e, no Magnificat, temos sua interpretação dessa palavra que se assemelha à interpretação que seu Filho tinha dado em seu ministério.

         Maria é a arca da nova aliança, o lugar da presença de Deus no meio de nós. Como a arca da nova aliança, ela não é um lugar que encerra Deus e sim um lugar que O dá. Ela não é uma arca que esconde o mistério, mas uma arca que o irradia. Maria é Aquela que, habitada pelo mistério, o dá.

         Quando na fé se dá espaço ao absoluto primado de Deus, a conseqüência lógica de ser habitado, de ser amado por Deus é sair de si, viver o êxodo sem regresso, que é o amor. O acolhimento da gratuidade do amor eterno torna-se a doação gratuita de tudo que se recebeu. Quem crê e vive da fé, tem capacidade de olhar para fora, aprecia o dom e o comunica. Certamente, respeitamos o dom de Deus quando nos tornamos arca irradiante e quando o restituímos a Deus, que nos estende a mão nos nossos irmãos.

         Maria como a primeira discípula cristã exemplifica a tarefa essencial de um seguidor de Cristo. Depois de ouvir a Palavra de Deus e aceitá-la, devemos reparti-la com os outros, não simplesmente repetindo-a, mas interpretando-a, de modo que todos possam vê-la como uma Boa Notícia. O nome “Boa Notícia” traz em si a notícia alegre porque Deus está conosco e com Ele nossa vida tem futuro apesar de tudo.

 

FONTE: www.filhosdemaria.com.br